Subiu as escadas lentamente. Pensava nas coisas que iria dizer a ela. Quarto andar, apartamento 402. Tocou a campainha.
Ela abriu. Vestia uma calça de moletom velha e uma regata branca. Tentou sorrir, mas a seu rosto estava vermelho e molhado. Havia chorado recentemente.
- Oi. Não te esperava... Desculpa meu estado.
- Não tem problema. Não pretendo demorar muito. – ele respondeu friamente.
Sentaram, ele numa poltrona e ela numa cadeira mais afastada. Ele estendeu o papel dizendo:
- Toma. Fiz pra ti.
Ela pegou o papel. Passou os olhos por cima. De seus olhos brotaram algumas lágrimas, que tratou de secar com os punhos.
- O que é isso? – questionou ao visitante.
- É uma música. Fiz pra ti. Fala da nossa separação e do que eu tô sentindo.
Ela seguiu lendo. A cada verso que lia, novas lágrimas escorriam pelo seu rosto. Parecia não entender o que estava acontecendo. Começou a ficar nervosa e irritada, prestes a explodir.
- Não tô entendendo, Marcelo! Ontem a gente transou, tu virou pro lado e disse “Aline, não quero mais ficar contigo. Preciso da minha independência de volta e blá-blá-bla...” e agora tu me vem com uma musiquinha toda cheia de “meu amor por você” e “preciso de ti”... Que porra é essa? Me explica!
- Nem tudo nessa vida tem explicação. Foi um prazer. Te cuida, guria! – disse, fechando a porta atrás de si. Foi embora.
Caminhou um pouco. O sol já se punha no horizonte. Achou um boteco na esquina. Meteu a mão no bolso e contou as moedas. Entrou no bar e comprou uma lata de refrigerante. Acendeu um cigarro e seguiu caminhando. Ora bebia da lata, ora tragava o cigarro.
Chegou em casa e sentou no sofá. Sentiu-se aliviado. “Que fome... Acho que posso comer algo antes de começar”. Abriu a geladeira e tirou uma caixa com três fatias geladas de pizza. Abocanhou uma e dirigiu-se à sala. Agarrou a Lês Paul e ligou-a no seu amplificador Marshall valvulado. Desferiu o primeiro acorde com fúria e com volume. Gostou do que ouviu. “É isso aí, baby!”.
Tocou durante duas horas, aproximadamente. Anotou cada verso da melodia que acabara de compor. Alguém bateu à sua porta. Ao abrir a porta, sorriu.
Um outro rapaz adentrou o recinto. Abraçaram-se. O amigo logo perguntou:
- E aí, Marceleza... Como é que foi com a mina?
- Olha... Foi normal. Ela chorou e perguntou as coisas de sempre. Eu virei as costas e fui embora. Simples como todas as outras. – respondeu.
Colocou a guitarra em volta do pescoço e começou a tocar sua nova composição para o amigo, que escutou atentamente.
- Tu é muito foda, velho! Com essa aí, já temos 10 músicas. Já dá pra gravar o nosso primeiro CD! – constatou o visitante.
- É... Vou ligar pro resto dos guris. Vâmo gravar essa como nosso hit principal. Dessa vez a gente vai decolar!
Continua...
quinta-feira, 24 de abril de 2008
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Um comentário:
meu muito afude!!!! alem de Historiador o cara virou escritor!!! mazahhhh guri!!!!!
abraçãoooo
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