Nos poucos passo que separavam João Victor do portão da casa onde acontecia a festa, parou e revisou seu plano de conquista, que traçara durante a viagem do segundo ônibus, detalhadamente. Sabia exatamente como iria agir com Raquel. Não podia se dar ao luxo de jogar tudo fora. Respirou fundo e entrou na casa.
Já de cara, avistou umas garotas bem alegres dançando com copos de cerveja nas mãos, enquanto alguns caras tocavam violão sentados numa roda. Na cozinha, algumas garrafas de vodka vazias estavam sobre a mesa, onde havia um rapaz, aparentemente bêbado, preparando drinks no liqüidificador.Seguiu caminhando casa a dentro até sair pela porta dos fundos. Lá deparou-se com um pátio grande onde havia muita gente. Tirando algumas pessoas do curso, não conhecia quase ninguém, lá. Olhava para todos os lado para achar Raquel. E finalmente, perto da churrasqueira, encontrou-a de pé a conversar com alguns colegas. Aproximou-se e cumprimentou todos.
- Oi, João! Que bom que tu veio! – Raquel dizia sorridente.
Logo estenderam-lhe um copo com cerveja. Não gostava de bebidas alcoólicas. Preferia suco de groselha ou abacaxi com hortelã, mas bebericou um pouco, afinal queria impressionar a garota.
Seguiram conversando durante um tempo, até que a banda cover de Los Hermanos subiu no palco improvisado na garagem. Imediatamente a multidão de jovens alcoolizados e sexualmente ativos avançou em direção aos músicos.
- Ai, meu Deus! A banda começou a tocar!!! Vamos lá... – Exclamou Raquel, correndo na direção do som e arrastando João pela mão.
Eles pararam atrás da multidão, que pula e cantava ao som da banda.
- Não to conseguindo ver nada! Vamos mais pra frente! – gritou Raquel no ouvido de João.
Embrenharam-se em meio ao povo, esquivando-se de pisões e empurrões, até que acharam um bom lugar onde podiam ver a performance do grupo. Como era maior que Raquel, João posicionou-se atrás da garota para evitar que ela se machucasse com a movimentação daquela massa de gente.
Estava bem naquele lugar... Podia sentir todo o doce perfume da menina. Sentia-se forte, protegendo-a. Sentia-se importante... O macho dominante protegendo seu território. “Assim que o show terminar eu vou beijá-la.”
Raquel virou-se para João e puxou sua cabeça em direção à sua, e João sentiu seu coração pular freneticamente na sua garganta. A garota aproximou seus lábios próximos ao ouvido dele e disse:
- Olha só... Acabou a cerveja! Vamos lá buscar mais. Tomara que na volta a gente consiga voltar pra este lugar.
Voltando à realidade, João recompôs-se e disse:
- Não. Fica tu aí guardando nossos lugares que eu vou lá buscar mais bebida pra gente!
- Ai, João... Como tu é querido! – a garota falou, beijando-lhe o rosto.
O rapaz, incrivelmente feliz e extasiado pelo beijo da garota, tomou o rumo em direção à cozinha. No caminho, ia driblando a selva de gente como se estivesse em uma expedição no meio da mata atlântica. Levou algumas cotoveladas, alguns pisões... Mas não sentiu dor alguma, porque nada mais parecia afetá-lo.
Ao chegar na cozinha, encheu dois copos bem cheios de cerveja. Estava nervoso e sentia que uma crise de asma estava por vir. Sentou-se em um banco e procurou se acalmar, respirando fundo. Mas a iminência de um contato mais íntimo com uma mulher não o deixava relaxar.
O tal cara bêbado, que preparava as bebidas, notou que João estava nervoso e disse, estendendo um copo com um líquido escuro dentro:- Aê, rapá! Toma um gole disso que tu vai ficar melhor!
- Oh... O que é isso? – perguntou, levando o copo ao nariz e sentindo o cheiro forte da bebida.
- É meu preparado especial! Com isso aqui tu vai relaxar e ficar na mó vibe!
- “Mó vibe”, é? Ok...
Empinou o copo e deu um bom gole. Sentiu aquele líquido queimando sua garganta e descendo pelo seu esôfago, fazendo suas entranhas revirar. Tossiu. E após um minuto, já estava melhor. Um pouco tonto... mas bem melhor do que antes! Já conseguia respirar tranqüilamente.
Se deu conta de que havia deixado Raquel esperando. “Droga!”. Levantou-se e tonteou mais ainda. Agarrou as cervejas e correu em direção à garota. Chegando na garagem, mais uma vez teve de lutar contra aqueles selvagens que não paravam de pular aos acordes dos instrumentos.
No último obstáculo superado, João conseguiu encontrar Raquel sem ter desperdiçado muita cerveja, porém uma triste cena projetava-se à sua frente. Raquel não estava sozinha.
Continua...