Petrificado, João limitava-se a olhar Raquel nos braços de outro homem. Estavam engalfinhados como dois lutadores de vale-tudo, só que aos beijos. “What the fuck...?”
Neste instante o casal apartou-se, e a garota olhou para o lado e viu João segurando dois copos de cerveja e com a boca aberta. Dirigiu-se à ele:
- Báh, cara... Tu demorou, heim! Ah... de certo tava dando uns pegas numa menina por aí!
- Oh... Eu... Estava sim. Uhm... óh a tua cerveja! – resignou-se a mentir e a estender o copo com a bebida.
Não podia acreditar que Raquel havia feito aquilo. “Ela me traiu.... ela me traiu...”. Era a única coisa que consegui pensar. Sentia-se usado, traído e humilhado. Foi trocado pelo primeiro que apareceu... Não lhe parecia nada justo.
Virou de costas e seguiu com seu copo de cerveja quente na direção oposta ao público. Achou a saída da garagem e foi para uma parte mais afastada do pátio. Sentou-se escorado no muro e bebeu sua bebida amarga e morna.
Por alguns minutos permaneceu quieto no seu canto. Não havia muita gente por perto, pois todos estavam vendo o show. Isso não o incomodava. Pelo contrário, achava muito bom ninguém notar sua presença.
- Certamente Oscar Wilde nunca passou por uma situação ridícula dessas. – resmungou, jogando seu como plástico vazio no gramado à sua frente.
- Como é que é? – uma garota que passava por perto perguntou dirigindo-se à ele.
João Victor levantou a cabeça e encarou a figura que havia parado á sua frente. Levantou cambaleante, mas pôs-se de pé. Tímido e sem graça, não fitava os olhos da moça. Ele respondeu:
- Eu... eu disse que Oscar Wilde nunc...
- Não foi isso que eu perguntei! Eu disse “Como é que é” porque tu jogou o copo vazio no gramado. Tipo... Sabe quantos anos o plástico leva pra se decompor?
Desconcertado, João sorriu buscando ser simpático. Com os olhos baixos, notou que a garota usava sandálias rasteiras de couro sintético com tiras trançadas que subiam pelos tornozelos finos e delicados. Usava uma saia colorida com lantejoulas que ia da altura dos joelhos e desenhavam contornos psicodélicos até a cintura delgada da moça. A barriga estava à mostra e, um pouco mais para a direita, havia uma tatuagem que não se podia ver na totalidade. Mais acima, a camiseta estilo babylook mostrava, em sua branca transparência, o contorno de seus seios e as delicadas alças do soutien. Seu pescoço longo e esguio estava ornado com um colar de contas coloridas. E, finalmente, olhando para seu rosto, notou o quão belo era. Seus cabelos louros e cacheados estavam presos com uma faixa colorida, contrastando com olhos profundamente verdes.
- Então... Não vai juntar o copo? – a garota perguntou irritada.
- Oh... Lógico! Desculpa... eu não queria... Eu tava um pouco irritado. – respondeu, juntando o copo do chão.
- Olha, meu... Tipo... Desculpa ter sido grossa e pá... Mas é que eu morro de raiva de gente que joga lixo no chão ou faz qualquer tipo de mal à natureza.
- Certo. Tem mais é que chamar a atenção mesmo!
A garota riu. Começaram a conversar. Disse que se chamava Laura. Fazia biologia na mesma faculdade que ele. Era vegetariana e adorava acampar. E João, automaticamente, simpatizou com ela. “Amo a natureza!”.
Fim.
quinta-feira, 5 de junho de 2008
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Um comentário:
Bom, eu não faria melhor. Do velho..
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