(Ilustração cedida especialmente para este conto pelo artista plástico e ator Ricardo "Caveira" Zigomático - início de uma excelente parceiria)
Após seu amigo ter partido, Marcelo deitou-se na cama e ficou apenas a olhar para o teto. Estava orgulhoso do que fizera, mas sentia um resquício de culpa. Nunca havia sentido isso antes... Gostava realmente da Aline.
Levantou e andou em direção ao armário. Abaixou-se e retirou uma caixa de sapatos velha do fundo. Colocou-a sobre a cama e abriu. Retirou alguns papéis e algumas fotos de dentro. Espalho-as e ficou a fitá-las. Todas fotos de garotas – suas ex-namoradas. Gostara de todas, mas convenceu-se de que ter feito elas sofrer foi necessário. “Mas Aline... Essa, sim, eu gostei! Não vou precisar acabar com ninguém de novo durante um bom tempo!”
Tomou um banho e saiu. Foi ao encontro do resto de sua banda em um bar não muito longe de sua casa. Chegou e cumprimentou todos. Pediram cervejas para comemorar o futuro sucesso da banda.
- Agora vamos começar a tocar nas rádios! Seremos a banda do momento! – exclamou um dos rapazes.
Marcelo riu, mas dessa vez era um riso forçado. Estava desconfortável. Olhou para uma mesa mais afastada e avistou Aline. “Puta-que-pariu! Cidade pequena de merda...” Ela estava a conversar com outra garota. Parecia enraivecida. Gesticulava rapidamente. Tentou ler seus lábios para ver o que dizia, ao passo que se escondia atrás dos companheiros. Porém, uma gargalhada mais alta de um dos amigos fez com que a atenção das garotas fosse focada em sua mesa. Ela tinha avistado-o.
Aline levantou da mesa e veio lentamente em sua direção. A cada passo dela, seu coração acelerava mais. Estava nervoso e sabia que não aquilo acabaria bem.
- Preciso falar contigo! – ela falou
- Ok... – Marcelo respondeu, levantando-se e indo em direção à uma mesa mais afastada.
Sentaram-se em silêncio. Aline não desviava o olhar cheio de fúria dos olhos desconcertados de Marcelo. Ela chamou o garçom e pediu uma cerveja.
- Tudo bem, Marcelo... Se tu não me quer mais, eu aceito. Mas agora tu vai ter que me explicar o que tá acontecendo. Não sou idiota! Eu sei que tu tá me escondendo algo. Fala de uma vez!!!
Pelo tom agressivo da moça, Marcelo sabia que ela não estava para brincadeiras. Sentiu-se acuado, um animalzinho indefeso contra a parede. Não poderia fugir dessa vez.
- Aline, eu gosto muito de ti. Tenho um carinho especial por ti... Acabar contigo me afetou muito mais que eu havia planejado. Pode ter certeza! – declarou Marcelo.
- Como assim “planejado”? Tu já sabia que ia acabar assim? – a garota perguntou surpresa.
Ele acendeu um cigarro e tragou. Respirou fundo. Olhou para as mãos trêmulas e escondeu-as debaixo da mesa. Não queria que ela visse seu nervosismo. Sabia que não havia outra escolha. Resolveu falar.
- Ok. Tu venceu! Nenhuma das outras conseguiu arrancar isso de mim. Eu gosto de verdade de ti, por isso vou te falar.
- “Outras”? Como assim? – Aline indagou cada vez mais confusa.
- Eu tive uma namorada há tempos. Ela me deu um pé-na-bunda e eu fiquei arrasado. Acabei escrevendo uma música pra ela. A música era boa... Boa de verdade! Ali eu decidi compor minhas próprias músicas. Só que depois disso eu não consegui escrever mais. Fiquei frustrado. Minha dor já tinha passado e eu não tinha mais motivos para escrever...
- Tu é maluco, isso sim! O que eu tenho a ver com isso? – a moça interrompeu.
- Acontece que eu percebi que só conseguia escrever quando eu perdia alguém. Isso aconteceu mais duas vezes. O problema foi quando eu arrumei uma namorada que não me largava por mais cachorro que eu fosse com ela! Então eu decidi que eu mesmo acabaria os relacionamentos. Desde então eu conheço alguma guria, namoro uns 3 meses, acabo com ela e escrevo uma música. Sempre foi simples... Nunca expliquei meus motivos. Simplesmente sumia da vida delas. Agora to te contando tudo isso porque acho que de certo modo eu to apaixon...
Antes mesmo que Marcelo terminasse de falar, Aline levantou da cadeira e desferiu um golpe certeiro em seu rosto. Marcelo caiu para trás com cadeira e tudo. O bar todo parou para ver a cena estarrecedora.
Marcelo levantou meio atordoado. Colocou sua mão em seu nariz. Sentiu um líquido denso e viscoso que escorria pelas narinas. “Legal... ela quebrou meu nariz!” Aline pegou sua amiga pela mão dirigiu-se para a saída. Parou, voltou-se para Marcelo e gritou:
- Então eu era apenas isso pra ti: uma dor-de-cotovelo forjada! Boa sorte na tua carreira de músico-de-quinta-filho-da-puta!
As duas garotas foram embora. Os amigos de Marcelo foram acudir o companheiro, trazendo-lhe alguns guardanapos. Marcelo sorriu. Limpou o nariz ensangüentado. Acendeu outro cigarro. Seu nariz ardia por causa da fumaça.
- Porra, Marceleza... Que mão pesada essa mina tem! – um colega comentou.
- São os ossos do ofício, meus amigos. - concluiu.
Uma garota de cabelos avermelhados olhava Marcelo como se estivesse achando graça do ocorrido. Ele levantou e caminhou em sua direção. Puxou uma das cadeiras vazias e sentou perto da garota.
- Ta achando graça de que? É do meu cabelo desarrumado ou da minha calça rasgada? – perguntou em um tom irônico.
- Nunca tinha visto uma briga entre namorados que resultasse num nariz quebrado... Isso é bem incomum. É engraçado! – a ruiva respondeu estendendo um lenço de papel.
- Bem... Ex-namorados. E eu não sou um cara comum!
Trocaram telefones. Marcaram uma saída para o outro fim-de-semana. Marcelo havia conquistado mais uma. “Acho que já tenho outra canção em vista...”. Voltou a sentar com seus companheiros de banda. Precisavam planejar seus planos para o estrelato. “Estamos pintando na área... NX Zero que se cuide!!!”.
Fim.
sexta-feira, 2 de maio de 2008
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3 comentários:
... até porque escrever é necessário..... sou suspeito para criticar por motivos óbvios... mas continue este é o caminho.
Abraço, teu pai.
Ah, ficou ótima a ilustração!!
Adorei!
Posta maisss!!
Bjokas
muito bem escrita,
imaginada...adorei!
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