segunda-feira, 14 de julho de 2008

Roxanne - parte 1

(Ilustração cedida especialmente para este conto pelo artista plástico Ricardo "Caveira" Zigomático)


Lembro-me bem daquela noite. Estava fria, e eu e meus amigos dirigíamos um Opala 75 pelas ruas iluminadas da capital. Ríamos, nos divertíamos... Como éramos infantis! Qualquer coisa nos fazia delirar.
Nós éramos como irmãos. Nós quatro andávamos juntos desde o colegial. Aprontamos poucas e boas. As garotas nos conheciam como malandros desajustados. Mas nós gostávamos da fama... e acho que elas também! Sempre havia uma “pequena” por perto.
Boemia! Não sabíamos viver de outro jeito. Nossas vidas eram pacatas, sem muito objetivo. Éramos medíocres no sentido exato da palavra. Nesta época, estávamos perdidos no limbo que separa os jovens do fim do colegial e o início da faculdade. Muitas escolhas eram necessárias, mas fugíamos de fazê-las.
Em certo ponto do nosso trajeto em direção a lugar nenhum, as cervejas acabaram. Precisávamos de mais. Éramos completamente irresponsáveis. Nos revezávamos na direção mesmo estando todos alcoolizados. Mas não nos preocupávamos: éramos jovens. Jovens não morrem jamais!
Enfim... Precisávamos de bebidas! Paramos o carro em uma ruazinha que cortava aquela grande avenida iluminada pelos postes, com corredor de ônibus e onde muitos clubes noturnos ofereciam seus “atrativos”, com pouca roupa e muito carinho para dar. Descemos e fomos caminhando em direção à um boteco na esquina.
O boteco do Seu Juarez era famoso por ficar a madrugada toda aberto, ter mesas de sinuca e vender bebida barata. Entramos e sentamos em uma mesa. Juntamos alguns trocados para comprar uma garrafa de vinho e duas carteiras de cigarros.
Conversávamos sobre futebol, sobre garotas, sobre tudo! Analisávamos cada movimento dos transeuntes que por ali circulavam. Em dado momento, não sei porquê cargas d’água, avistei uma menina. Linda! Vestia uma roupa curta e ousada. Provocava olhares dos que passavam por perto. Era loira, com um olhar tão infantil e ao mesmo tempo tão triste. Fiquei a mirá-la de longe, da segurança da minha calçada e com uma avenida toda nos separando. E ela nem me notava.
A noite ia passando e ela permanecia caminhando de um lado para o outro. Vez ou outra, um carro parava e ela debruçava-se na janela para conversar com o motorista do veículo. Eu só torcia para que ela não entrasse em nenhum automóvel e fosse tragada pela cidade. Não queria perdê-la de vista. Acho que eu estava hipnotizado, ou algo do gênero.
Teve uma hora que não me agüentei e interrompi nosso papo para comentar sobre a garota do outro lado da rua. Todos olharam. Era unânime: nós todos achavam a garota linda, mas estranhamente só eu dei importância para ela. Talvez porque ela não parecesse essas prostitutas de rua que estávamos acostumados a ver por ali. De fato, nunca havíamos visto ela antes.
Enquanto esperávamos uma mesa de sinuca ser liberada, nossa garrafa de vinho secava e nossos cigarros viravam pó no cinzeiro. Até que finalmente conseguimos uma mesa. Nos dividimos em duplas e começamos a jogar. Eu era bom naquilo! Mas eu não consegui me concentrar no jogo... estava errando bastante. Uma hora eu enchi o saco e fui tomar ar puro na rua.
Acendi um cigarro. Olhei para o outro lado da avenida e vi que a garota continuava lá. Não sei o que me passou pela cabeça, mas conferi se os rapazes continuavam jogando e atravessei correndo a rua em direção à moça.
Quando cheguei perto, um estranho nervosismo me impediu de me aproximar dela. Então caminhei mais um pouco, lentamente, como se estivesse apenas passando por ali. Ia olhando para trás para ver se ela me olhava. Acabei tropeçando em uma garrafa vazia na calçada. Ela riu. Tinha um sorriso lindo!
Então eu parei, dei meia volta e caminhei em direção à ela. Foi neste exato momento que um carro parou diante dela e um homem asqueroso saiu de dentro. Chegou perto dela e a puxou pela cintura. Ela fez cara de nojo e tentou se livrar do homem, pedindo para que ele a soltasse. Ela se sacudia e ele começou a ficar nervoso.

Continua...

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