Eu, um garoto assustado e bobalhão, não sabia o que fazer. Fiquei parado olhando aquilo. Minha cabeça dizia que eu tinha que fazer algo, mas meu corpo não obedecia. Até que ele deu um tapa na cara dela. Aí eu fiquei nervoso... com raiva! Apanhei a garrafa que eu tinha tropeçado e acelerei em direção aos dois. Quando eu cheguei perto, golpeei com toda a força a cabeça do desgraçado. A garrafa partiu-se em mil pedaços e aquele imenso corpo tombou para o lado, já desacordado. A garota, chorando e muito nervosa, me abraçou.
Eu não sei o que era pior, ela tremendo de nervosismo ou eu com medo de ter matado o homem. Eu me abaixei para ver se o homem estava vivo. Quando aproximei meu rosto, o cara acordou e tentou agarrar meu pescoço, gritando que ia me matar. A moça me puxou pelo braço e saímos correndo rua adentro.
Cansados, paramos perto de uma praça. Ela me olhava e permanecíamos em silêncio. Procurei sorrir para ser simpático, tentei puxar papo. Conversamos um pouco, mas ela precisava voltar. Eu não deixei! Fiquei imaginando que talvez aquele homem ainda estivesse nos procurando. Definitivamente, voltar não era uma boa idéia. E ela concordou.
Então, sei lá porque, eu segurei a mão dela e fomos em direção à quadra seguinte. Procurei um caminho mais longo, porém mais movimentado, para encontrar com os rapazes no bar. Quando chegamos lá, ela não quis entrar. Disse que tinha vergonha dos meus amigos. Eu olhei para dentro do lugar, e eles continuavam lá, cada vez mais bêbados e se divertindo. Nem tinham dado pela minha falta. Meti a mão no bolso e retirei as chaves do Opalão. Entramos no carro e partimos sem rumo pelas ruas iluminadas da grande cidade.
Olha... não sei quanto tempo ficamos ali sentados em silêncio, rodando naquele carro. Nem lembro direito o que eu falei para ela. Mas pouco a pouco ela começou a se sentir segura, confiante. Rimos do que havia acontecido. Disse para ela não se preocupar que aquele cara devia estar tão bêbado, que nem lembraria do que o atingiu na noite anterior. Ela relaxou.
Paramos em uma parte alta da cidade. Podíamos ver todas as luzes lá embaixo. A vista era linda! Sentamos no capo e nos abraçamos. Ficamos em silêncio. Ela levantou a cabeça e me beijou suavemente. Seus lábios estavam úmidos e quentes. Meu coração pulou feito um cavalo selvagem dentro do meu peito. Estava completamente entregue em meus braços. Dei calor ao seu pequeno corpo, e afastei o frio da madrugada por alguns instantes.
Sabe... Até hoje não entendo porque ela me beijou. Acho que ela estava tão carente, que o beijo serviu de agradecimento por eu ter visto que ela era apenas uma garota normal, e não um objeto. Eu não a usei. Não me aproveitei de sua fragilidade. Talvez tenha sido o único a tratá-la bem durante um bom tempo.
Quando ela se deu conta do que havia feio, deu um pulo para trás. Mas já era tarde... eu já estava completamente apaixonado! Ela, então, insistiu para que eu a levasse para casa e, a muito custo, ela me convenceu.
Ela me guiou até uma pequena casa. Disse que morava com uma amiga e que eu não podia entrar. Desceu do carro e virou as costas sem olhar para trás. Fiquei muito chateado... Ela abriu a porta e entrou. Eu virei minha cabeça para frente e dei partida no carro.
Não consegui sair dali. Fiquei com o motor ligado, com os faróis acesos, mas não engatava a marcha na esperança dela voltar. Então ela voltou. Saiu correndo pela porta, descalça, e veio em minha direção. Abriu a porta do carro e pulou para dentro. Deu-me um beijo cheio de paixão. O beijo mais sincero e cálido que eu já recebi. Depois me disse apenas um "tchau" e voltou para casa.
Eu, imensamente feliz, engatei a primeira e acelerei. Acendi um cigarro e coloquei entre meus lábios enormes e felizes. Corri em direção ao bar do Seu Juarez para encontrar com os rapazes. Precisava contar o que tinha acontecido. Liguei o rádio e cantarolei a canção que tocava. "Roxanne... You don’t have to put on the red light "
Fim.
sexta-feira, 18 de julho de 2008
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